terça-feira, 5 de agosto de 2014

Perímetro está sem água para irrigação desde janeiro | O POVO

Perímetro está sem água para irrigação desde janeiro | O POVO



PARAIPABA 03/08/2014

Perímetro está sem água para irrigação desde janeiro

Ao todo, 2.051 famílias do Perímetro Irrigado Curu-Paraipaba temem perder o plantio de mais de 100 mil coqueiros. Irrigantes reivindicam a perfuração de 35 poços como forma de "irrigação de salvamento"
FOTOS EDIMAR SOARES
Manoel Florentino Filho, 20, trabalha no cultivo do coco, mas, como o abastecimento de água está escasso, ele pesca em reservatório de água no perímetro irrigado

Manoel caminha com os pés empapados de lama na água escura que lhe cobre os calcanhares, no reservatório onde antes 18 milhões de metros cúbicos de água pousavam. Manoel Laurentino, 20, é derrubador de coco. Sobe habilmente os coqueiros e com mais três do mesmo ofício tira 5 mil cocos num dia só. Para conseguir o almoço, Manoel puxava o cavalete até o reservatório e pescava 15, 20 carás. Desde que, em janeiro, o nível da água baixou tanto que as bombas não conseguem puxar a água para irrigar os coqueiros do Perímetro Irrigado Curu-Paraipaba, a 90 km de Fortaleza, Manoel não vê atingir a meta do dia e ainda percorre muitos lotes. Peixe, então, é raro vir mais que um pequeno na rede que o moço joga repetidas vezes.

Neto de um dos 1.070 irrigantes do Perímetro, da cidade conhecida como “Terra do Coco”, Manoel tem de percorrer todos os dias lotes à procura do fruto em boas condições de comercialização. “Tá tudo bicudo, ou brocado (com furos e manchas), quase sem água”, lamenta. A produção que era de 5 milhões de frutos por mês nos 3 mil hectares de terra, hoje não chega a 2 milhões e em má qualidade. Dos 510 mil coqueiros, 100 mil, os pés com menos de oito anos de plantio, sofrem mais com a estiagem e podem morrer.

“Os coqueiros novos são 25% da nossa produção aqui e eles estão murchando, porque coqueiros mais antigos têm a raiz profunda, eles sofrem com a estiagem, mas conseguem tirar água do lençol freático. Mas coqueiro novo, não. De 0 a 8 nos, ele sofrem muito, têm deles que já estão morrendo, e daqui para dezembro só piora”, estima Raimundo Nonato Silva, o Jean, presidente da Associação do Distrito de Irrigação Curu-Paraipaba (Adicp).

Jean, que também é irrigante, explica que o coqueiro demora um ciclo de quatro anos de adubação, irrigação e investimento para só então começar a produzir. Com a estiagem, o ciclo é rompido. “É por isso que a gente está preocupado. Tem plantas que a gente sabe que não adianta mais tentar recuperar, que vai ter de começar do zero e aí serão mais quatro anos para poder render novamente. É muito prejuízo”, afirma, ao lembrar que os seus coqueiros de três anos já estão todos amarelos.

O Perímetro é irrigado pela água dos açudes que fazem parte da bacia do rio Curu, que tem capacidade para 1.029 hm³, e estava até o fim da semana, segundo dados fornecidos pelo Portal Hidrológico do Estado, apenas com 5,1 % da capacidade total. “Um coqueiro precisa de 200 litros de água por dia para manter a produção. Foram feitos estudos e chegaram ao número de 24 litros para pelo menos salvar o pomar”, explica Aurenir Chaves, gerente da Adicp. Hoje, somente quem estava próximo a lagoas ou então cavou poços por conta própria, “o que não é mais de 150 irrigantes”, está mantendo a lavoura.

Para conseguir a água que forneceria a “irrigação de salvamento”, é preciso construir 35 poços no entorno das estações em que estão os reservatórios e o equipamento de bombeamento. O projeto, alçado por estudos da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) em R$ 1.364.600, ainda não tem recurso para ser realizado. “Os poços não seriam para produção. É apenas uma solução emergencial para não perder tudo”, comenta Aurenir. Para Pedro Garica, 63, funcionário dos reservatórios há 38 anos, a estiagem nunca castigou tanto. “Pra resolver só Deus mandando muita chuva, mas os poços já dariam pra quebrar um galho”, sentencia.

Números

100 mil novos coqueiros, no total de 510 mil que são cultivados, correm risco de morrer

2.051 famílias vivem no Perímetro Irrigado Curu-Paraipaba, totalizando 7325 pessoas

R$2,5 mi são gerados por mês pelo cultivo de coco, segundo a Adicp

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